segunda-feira, 15 de setembro de 2008

Sinopse Enredo 2008

G.R.E.S.V. Estrela Dalva

Enredo 2008: “Gralha Azul, símbolo de uma nação”.

PRESIDENTE : JORGINHO DA IMPERATRIZ
PATRONO : HENRIQUE CÉSAR
VICE PRESIDENTE: DANILO HENRIQUE
DIRETOR DE CARNAVAL: RODRIGO FERREIRA
CARNAVALESCO: KAUÊ MIRON


Sinopse


Chegou à fazenda dos Pinheirinhos, Fidêncio Silva, um grande homem de negócios, com casa matriz em Curitiba e filial em Ponta Grossa. Veio em busca de repouso, necessitava urgentemente afastar-se dos alvoroços dos negócios. Fidêncio era parente afastado da esposa de José Fernandes.

Não tardou, para aquele homem desgastado por inúmeros compromissos, sorvesse o ar puro e varrido da campanha guarapuavana.
José Fernandes tinha o recebido com muita pompa, como merecia o ilustre visitante. Pôs os Pinheirinhos à disposição do seu hóspede pelo tempo que desejasse. Não precisou falar duas vezes, lá encontrava-se Fidêncio, com alma livre como passarinho, à sombra do pomar, folheando um livro, ou não fazendo nada mesmo. Passeios não lhe faltavam, por vezes ia ao rodeio, caminhava volteando o rincão... Um dia passarinhava pelos capões, noutro corria a vizinhança para trocar um dedo de prosa com os caboclos e até pescaria, se quisesse, poderia fazer no picuiry, três léguas sertão adentro. E, assim, transcorreram trinta dias agradabilíssimos, que Fidêncio Silva tinha programado para passar nos Pinheirinhos.
E assim foi.
Num domingo depois do almoço, saiu a caça com o fazendeiro. Municiados e com espingardas suspensas pelas bandoleiras ao ombro, embrenharam-se os dois pelo extenso e tapado capão, "querência certa de muito veado, cutia e quati", como afirmava José Fernandes.
Mas os caçadores não viam um animalzinho sequer que merecesse chumbo grosso, até que em um momento, Fidêncio parou, engatilhou, firmou pontaria, visando a fronde de retorcida guabirobeira. O fazendeiro ergueu os olhos para olhar a caça e um súbito tremor lhe sacudiu o corpo e, de um pincho, estava ao lado de Fidêncio. Mas já era tarde, pois o rebôo do tiro já perdia-se pela mata, a evocar profunda tristeza na quietude frouxa de um mormaço estonteante.

Mas... Felizmente, o atirador havia errado o alvo e o fazendeiro então, desafoga um suspiro de satisfação, dizendo:
-"Meus parabéns!"
-"Parabéns", pergunta boquiaberto Fidêncio Silva.
- "Aguarde-me, que lhe contarei tudo. Sente-se aí nesse tronco e escute-me.”
Foi quando então, José Fernandes, depois de tirar um lenço para enxugar o suor que corria pelo rosto, também sentou preguiçosamente sobre a trançada grama e foi falando:
-"Era inverno, há quinze anos atrás. Havia muita seca e o gado caía de magro. Certa tarde montei a cavalo e saí a costear banhados e percorrer sangas, na esperança de salvar alguma criação que porventura se atolasse ao saciar a sede. Carregava comigo uma espingarda, pois naquele tempo não poupava graxaim. Quando retornava, avistei um bando de gralhas azuis descer à beira de um capão, entre numeroso grupo de pinheirinhos. Aproximei-me vagarosamente e notei que elas revolviam o solo com o bico. Fiz pontaria e aí, a espoleta estraçalhou-se e vários estilhaços vieram dar em meu rosto. Tonteei e caí sobre a macega.



Quanto tempo fiquei desacordado não sei dizer. Porém, antes de recuperar os sentidos, quando o Sol já procurava encobrir-se por detrás do horizonte, algo mágico aconteceu. Revi-me de arma em punho, pronto para fazer fogo. Foi neste momento que a gralha azul, com suas asas brilhantes abertas, o peito a sangrar, veio se chegando a mim. Os pés franzinos evitavam os sapés esparsos pelo chão e o andar esbelto tinha qualquer coisa de divino. Permaneci estático e estarreci ao ouvir os sonoros e compreensíveis sons que aquele delicado bico soltava naturalmente. Dizia ela:
- És um assassino! Tuas leis não te proíbem de matar um homem? E quem faz mais do que um homem não vale pelo menos tanto quanto ele? Pois sou eu a humilde avezinha, entoando a minha tagarelice que faço elevar-se toda essa floresta de pinheiros; bordo a beira das matas com o verdor dessas viçosas árvores de ereção perfeita; multiplico o madeiro providencial que te serve de teto, que te dá o verde das invernadas, que te engorda o porco, que te aquece o corpo, que te locomove dando o nó de pinho para substituir o carvão-de-pedra nas vias férreas. E ignoras como opero! Venha até o local onde interrompeste meu trabalho. Ali está a cova que eu fazia, para depositar nela o pinhão sem cabeça com a extremidade mais fina para cima. Tiro-lhe a cabeça porque ela apodrece ao contato da terra e arrasta à podridão o fruto todo e planto-o de bico para cima a fim de favorecer o broto. Vá e não sejas mais assassino. “Esforça-te, antes, por compartilhar comigo nesta suava labuta.”



Levantei-me então a muito custo e fui até o local escavado pelas aves, uma das quais jazia com o peito manchado de sangue, ao lado de um pinhão sem cabeça. Pude compreender que certeza da visão. Mais adiante, com as mãos remexi na terra revolvida e descobri um pinhão com a ponta para cima e sem cabeça.

José Fernandes, após uma pausa, concluiu:
- "Aí, está, caro Fidêncio, como vim a ser um plantador de pinheiros. Quero valer mais que um homem: quero valer uma gralha azul".




Carnavalesco: Kauê Miron